quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A mão.



Mas bem, você sabe, talvez eu não seja o grande transatlântico que pensas que sou, talvez apenas um navio cargueiro meramente transportador e tu também já conhece todos os meus jeitos errados e o que penso da vida.
Você sabe, eu vou te mentir, diversas e diversas vezes, mesmo que eu nem precise, vai ser involuntário. Mesmo tu sabendo que eu não vou me encaixar em todas tuas expectativas, que vou me esquecer de datas importantes, que eu não vou achar legal aquele teu amigo que tu adora e que várias e várias vezes tu vai se questionar muito, e se perguntar sobre o caminho que as coisas estão indo.

E eu vou ficar longe de ti por diversos dias, e isso vai doer bastante. As más línguas vão encher tua cabeça com bobagens e toda noite tu vai demorar um pouco mais para dormir por conta disso, e você vai torcer e gritar para que isso não ocorra, mas vai.

E agora, que eu já disse tudo e tu já sabe de todos os pontos da história. Mesmo tu sabendo de tudo isso.
E se eu te der a mão, vem comigo?

terça-feira, 28 de agosto de 2012

trapézio do coração, né?

A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz. Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não? Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

Antônio Prata

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um canto


Com tanto lugar cheio de claridade dentro da mente, porque insistimos em levar os pensamentos para o canto mais escuro?
Nossas certezas precisam ser estendidas em lugar claro e arejado,
sem sombra de dúvida.

Identidade próxima.

Ela é solteira. Não sozinha. Ela pinta as unhas de vermelho quando quer. Mas, também, sabe deixar as unhas em cacos quando dá vontade. Esbanja esquisitices ao falar dos seriados prediletos. E se cala quando o assunto é sobre o porquê dela não ter namorado. Ela usa vestido de tricô, daqueles clichês para tomar chá quando o tempo é frio. E bebe cervejas em canecas, como homens pré-históricos. Ela ri de palavrões e de piadas de humor negro. Mas, também, se derrete mais do que picolé em frigideira quando recebe um SMS romântico de madrugada. Mas por que não namora?

Ela acorda, escova os dentes de quem já usou aparelho, toma chocolate quente, se arruma e vai trabalhar. Prefere usar preto. Mas desbanca qualquer havaiana bonita quando inova em alguma vestimenta cheia de flores coloridas. Ela é linda e desconversa. Fala do tempo, do futebol, da novela, da mãe, da crise do Paraguai e do Joseph Gordon-Levitt. Mas por que tu não namoras?

Quando o assunto é sexo, ela fala menos do que escuta. Escuta com os ouvidos, com os olhos, com a boca e com os pêlos da coxa. Transa menos do que deseja. E sabe esconder alguma aspirante a Sônia Braga dentro daquele decote comportado. Ela curte os Beatles, os Novos Baianos, Caetano e o Cícero. E fala que eu tenho péssimo tom de voz. Lê Caio, Keroauc, Fante e Gabito. Mas diz que, também, gosta das minhas histórias. É estranha, também. Assumo. Corta o cabelo de acordo com as fases da lua e gosta de comer macarrão com feijão. Gosta de umas bandas que ninguém conhece e chora com as histórias do Nicholas Sparks. Liga o ar condicionado porque gosta de dormir sentindo frio e acaba repousando feito uma esquimó com meias e edredom.
Uma linda esquimó, por sinal. Não sabe usar o celular. Costuma atender as ligações somente após a quarta tentativa de chamada. Não, ela não ignora. Ela perde tempo é procurando o celular na bolsa, debaixo da cama ou pia na banheiro. Mas, vez em quando, ela sabe ignorar também.

Não sabe dançar. Recusa os convites, mas adora ser convidada. Odeia batom e gosta de brincos de pena. Mas por que ninguém conseguiu ultrapassar esse muro de Berlim que você ergueu no teu peito?

Ela desconversa. Ri de canto de boca e me pergunta se eu fumo tentando desviar o assunto pra longe. Eu insisto. Falo coisas demodês e jogo no ar o fato de que eu a acho perfeita. Ela empina o nariz o fino, me lança teus olhos verdes escuro e ajeita-se sobre a mesa. Muda o tom e me fala: “Porque eu não quero”. E eu rio sem graça da minha maldita ideia de achar que todo mundo quer ter alguém para dividir os brownies.

ELA NÃO QUER ALGUÉM PARA DIVIDIR OS BROWNIES- Hugo Rodrigues

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Coração em voo livre.

Talvez ela não esteja e nem queira estar para ver o circo pegar fogo. A cobra poderá fumar ou a jiripoca piar mas ela só quer estar distante disso tudo. Talvez só queira um refúgio, uma fuga de lindas paisagens e acomodar o coração em outra língua- literalmente ou não. Só quer se preparar e acreditar de fato que o que houve entre eles foi uma desistência mutua, e que a longo prazo, de qualquer forma, a maionese desandaria. Por incompatibilidades generalizadas, por serem a água e o vinho, por ela ser muito humana e transparente e ele tão somente composto de carne, osso e pele branquinha. Só quer levar o coração para um voo livre, e acredite minha amiga, embora no inicio essa distancia poderá parecer uma prisão, há sim razões que a própria razão desconhece, e há sim, muitas prisões que libertam. Leva tua alma para passear, tua mente para alçar novos voos, vai respirar novos ares. E passe o tempo que for necessário, se munindo de armas argumentativas. Não que tu deva satisfação para alguém, mas que perceba para ti mesmo ' Ei, hoje também vejo que não vale a pena. Agradeço o estilo Lord e sem cavalo branco que tentaste ser, mas agradeceria em praça pública se tivesse me poupado da maneira rude como partiu, a galope num pangaré.' Que enfim, minha amiga/irmã//mãe/filha, tu saibas que um pedaço do meu coração embarcará nesse teu voo livre, acompanhando cada capítulo da tua nova jornada. E se pelo caminho, tu encontrar pegadas, fui eu que passei pelas mesmas armadilhas da vida e por isso falo com maestria que nada é mais forte do que o amor que a gente sente pela gente mesmo. E por tu ser um pedaço considerável de mim, o que eu sinto por mim, estendo à ti. Segue viagem com o coração em voo livre e quando se sentir preparada, te rende a uma prisão que valha a pena.

Por Ana C.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

E a última parcela do seguro, acabou!

Todo cidadão que trabalha e é dispensado sem justa causa, tem direito a este benefício. Nada mais justo, afinal, ser suspenso do cargo merece um apoio!
O pagamento é correspondente ao tempo de serviço prestado, ou seja, quem trabalhou por mais de seis meses: pode requerer este direito. E na vida pessoal funciona da mesma forma.
A gente é demitida sem justa causa de uma relação- que a gente trabalhou para ter, e sim: precisamos de um seguro. Porque um determinado dia o ‘patrão’ chega e diz:
 - Não dá mais, residimos o contrato por aqui, procura teu seguro minha Cara, e ...boa sorte!

E chega o momento de correr atrás dos nossos direitos, ir atrás dos recursos que o mundo oferece para continuarmos ativos no mercado. E a gente cria especialidades, e forças para seguir adiante.

A última parcela do seguro acaba agora, com quase seis meses no direito de estar desesperada, opa! desempregada, a gente se encontra com um pouco mais de estrutura, para continuar na luta de não ser demitida por qualquer maluco que a gente ousa firmar vínculo.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

de mim mesma!

"Alguém sempre estará a espreita, em alguma sombra do seu passado amoroso. Eu não tenho estômago pra digerir essas suas eternas opções. E se sou apenas uma opção, então é melhor ficarmos por aqui."
gabito MEU REI

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

pontinhos!

Eu decidi então interromper as buscas. Tanto caí nessa vida que hoje em dia nem noto o som das minhas costas baqueando contra o chão. E mesmo correndo o risco de perder qualquer pessoa na qual valha a pena investir esforços para ficar ao lado, acho mesmo que preciso abortar a missão de um relacionamento sério e retornar sorrindo ao estágio estoico da minha vida, até tudo 'normalizar', no sentido original da palavra.
gabito nunes- colega!